Economia | 3 minutos de leitura
Emprego e renda garantiram PIB no 1º tri, mas expansão tende a desacelerar
Selecionado por: Johnny Vivan
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Economistas alertam que o ritmo de expansão da economia tende a perder força, tanto pela mudança de expectativa em relação à velocidade da queda da taxa de juros como por conta do impacto da tragédia no Sul
A alta no consumo das famílias, puxada pelos contínuos ganhos de emprego e renda, garantiu a volta do crescimento do PIB brasileiro no primeiro trimestre do ano, após dois trimestres de acomodação.
Mas os economistas alertam que o ritmo de expansão da economia tende a desacelerar, tanto pela mudança de expectativa em relação à velocidade da queda da taxa de juros como por conta do impacto da tragédia no Rio Grande do Sul, que ainda está sendo contabilizado.
O IBGE divulgou nesta terça-feira que o PIB avançou 0,8% sobre o último trimestre de 2023 e 2,5% na comparação anualizada.
A XP comenta em relatório que o consumo das famílias manteve-se numa trajetória de crescimento sólido, impulsionado por um aumento significativo do rendimento disponível real, enquanto os investimentos se recuperaram após a quebra registada no ano passado.
É destacado que, do lado da oferta, a maioria das atividades apresentou resultados positivos. Um exemplo foi a agropecuária, que se recuperou fortemente na margem (+11,3% no 1º trimestre após -7,4% no 4º trimestre). As atividades pecuárias também registraram números muito favoráveis nos primeiros meses de 2024.
“Na comparação anual, o PIB do setor primário caiu 3,0%. A produção de soja na safra 2023/24 foi significativa, mas menor do que a máxima histórica registrada na temporada anterior. Tenha em mente que mais de 60% da produção de soja é contabilizada no PIB do 1º tri”, diz o texto.
Já o PIB de serviços ganhou força no trimestre, com expansão de 1,4% no 1º tri, acelerando em relação ao ganho de 0,5% do visto na leitura anterior.
A XP cita que Varejo (+3,0%), Informação e Comunicação (+2,1%) e Outros Serviços (+1,6%) se destacaram, impulsionados pela forte expansão da renda disponível real das famílias (+4,5%), devido ao mercado de trabalho aquecido, às altas transferências fiscais e ao pagamento dos precatórios.
A projeção para o crescimento do PIB em 2024 permanece em 2,2%, embora existam maiores incertezas para o cenário de atividade no curto prazo.
“Por um lado, o mercado de trabalho está ainda mais forte, já que a criação de empregos e os salários reais ganharam força no período recente. Por outro lado, o desastre natural no Rio Grande do Sul impactará significativamente os indicadores de atividade do 2º trimestre, e as condições monetárias devem ser mais restritivas do que o inicialmente previsto nos próximos trimestres.”
O Santander Brasil, por sua vez, avalia que os setores de oferta ficaram próximos das expectativas, com os serviços surpreendendo pelo lado positivo, enquanto a demanda indicou desempenhos positivos para o consumo e os investimentos, enquanto o governo surpreendeu pelo lado negativo.
“Olhando para o futuro, esperamos uma desaceleração no 2º trimestre, devido aos efeitos decrescentes do pagamento de precatórios e aos impactos negativos das enchentes no Rio Grande do Sul”, diz o relatório do banco.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, avalia que a expansão do PIB ficará concentrada na primeira metade do ano. “Projetamos alta de 2,2% para a economia brasileira em 2024. É preciso considerar, no entanto, que o impacto das chuvas no Rio Grande do Sul sobre o PIB nacional ainda é incerto”, pondera.
Ela diz que, por ora, permanece a leitura que os auxílios concedidos e os investimentos que serão feitos para a reconstrução do estado poderão compensar a possível baixa na atividade econômica no segundo trimestre.
Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter, também destaca o forte crescimento do consumo das famílias, impulsionado pelo aumento dos gastos fiscais em transferências, além do robusto mercado de trabalho, que vem contribuindo para o forte crescimento da massa salarial.
Por outro lado, ela diz que a recuperação do investimento no trimestre (+4,1%) ainda não foi suficiente para recuperar a retração desde 2022. Além disso, a taxa de investimento teve nova retração, para 16,9%, ficando no menor patamar desde 2020.
“Vale destacar que a importação voltou a crescer (+10,2% em relação ao 1º trimestre de 2023), puxada por bens de capital, compensando em parte a queda na indústria local. Esse cenário da maior demanda doméstica é condizente com a cautela na condução da política monetária por parte do banco central”, explica.
Rafaela alerta que, apesar do forte crescimento do PIB no trimestre, parte dos impulsos tendem a perder força nos meses à frente, principalmente a expansão fiscal. Isso, juntamente com a política monetária mais restritiva, com juros reais que devem permanecer elevados por mais tempo, deve levara a uma desaceleração.
“Nossa expectativa permanece em 1,9% de alta para o PIB no ano de 2024. Além disso, o impacto da tragédia no RS deve desacelerar a atividade na região levar a uma queda marginal do PIB no 2º trimestre”, prevê.
Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, a atividade econômica brasileira vem se beneficiando de um mercado de trabalho em pleno emprego, de uma massa salarial crescente e da inflação bem-comportada. “Além disso, temos monitorado o bom momento do crédito, uma retomada do setor industrial, impulsionada pela normalização dos estoques, e a permanência de alguns estímulos governamentais dado, inclusive, as eleições regionais”, comenta.
Para ela, os riscos negativos residem nos efeitos finais da calamidade no Rio Grande do Sul e a perspectiva de um ciclo de corte de juros menor que o esperado anteriormente. “Por ora, mantemos a nossa projeção de crescimento em 2,1%.”
Para o coordenador econômico da Genial Investimentos, Yihao Lin, os destaques do PIN do 1º trimestre foram, pelo lado da oferta, o desempenho do serviços, enquanto pelo lado da demanda foi a expansão do consumo das famílias. Mas ele também cita os investimentos medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que avançaram 4,1% no trimestre de 2,7% na comparação interanual.
“Esses destaques refletem o bom início de ano da economia brasileira, corroborando nossa percepção de que o desempenho no ano seria liderado pela absorção interna, principalmente o consumo das famílias, em um contexto de uma inflação mais benigna em relação ao ano anterior e de um mercado de trabalho extremamente aquecido”, explica.
Sobre os investimentos, Lin diz que a alta observada já é uma resposta ao ciclo de afrouxamento da Política monetária, embora a percepção seja hoje de um ritmo menor de cortes na Selic.
“Para os próximos trimestres, diante do aumento da incerteza do cenário econômico não só doméstico como global, a FBCF tende a perder essa força que apresentou no 1º trimestre. É um ponto de atenção que deve ser acompanhado nos próximos meses, dada essa composição de crescimento que marcou o ano passado, de consumo forte e investimento baixo”, alerta.
Tatiana Pinheiro, economista chefe de Brasil da Galapagos Capital, a expectativa é que a demanda doméstica apresente crescimentos trimestrais mais modestos no restante do ano.
O motivo é que dois dos três fatores que impulsionaram o consumo no 1º trimestre não se repetirão: o ganho real do salário-mínimo e o pagamento de precatórios atrasados.
“Além disso, a expectativa é que o mercado de trabalho arrefeça devido ao novo cenário de política monetária mais apertada”, completa.
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