Economia | 3 minutos de leitura
Securitizadoras dizem que limites para CRI e CRA têm pouco impacto nos negócios
Selecionado por: Johnny Vivan
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Passados quase dois meses da publicação da Resolução 5.118, do Conselho Monetário Nacional (CMN), que alterou as regras para emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e do Mercado Imobiliário (CRIs), securitizadoras descrevem um efeito discreto em seus negócios e veem um cenário positivo para os papeis, mesmo com as restrições. Um dos motivos é que as emissões proibidas, feitas por companhias abertas que não eram do agronegócio ou do ramo imobiliário, assim como por instituições financeiras, tinha uma rentabilidade menor. Outro fator é que há alternativas para este grupo de empresas, também via securitização, para levantar recursos.
A Capital Aberto ouviu três securitizadoras de diferentes portes para entender o impacto das medidas do CMN. OPEA, Grupo Travessia e Leverage Securitizadora destacam um cenário benigno para a atividade e as emissões de CRI e CRA, mesmo que segmentos específicos tenham sido impedidos de realizar as operações. “Na OPEA, as empresas que ficaram proibidas de emitir os papeis não eram tão relevantes. Mesmo em termos de remuneração para a empresa estas operações tinham um retorno menor. Não afeta nosso negócio”, comenta Flavia Palacios, CEO da OPEA. “Não é ruim para o mercado, que acaba se adaptando, há outras formas de captar.”
A CEO acrescenta que mesmo para as empresas agora proibidas pelo regulador de emitirem os papeis há outras opções. “Quem não pode mais emitir CRI ou CRA vai na minha visão buscar outros produtos securitizados, permanecem como clientes e podem utilizar um CR (Certificado de Recebíveis), um FIDC ou uma debênture securitizada. Vão se voltar, digamos, para os produtos raiz no universo da securitização”, comenta Flavia.
A OPEA está com mais de 40 operações de securitização em estruturação representando mais de R$ 10 bilhões, número muito parecido com o que tinha há um ano. “E temos um volume mandatário 40% superior ao que tínhamos no ano passado, ou seja, apesar da norma do CMN ter afetado negativamente o volume de transações do mercado, reduzindo as possibilidades de emissão de CRI e CRA, o crescimento natural do mercado e, eventualmente, a mudança de produto de captação, mais do que compensou.” Os números da OPEA incluem, além do CRI e CRA, transações de CR e debêntures de securitização
Para Vinicius Stopa, sócio do Grupo Travessia, reduções mais expressivas no mercado de CRI e CRA, por conta das novas regras, devem ser sentidas nas operações de março e abril, mas sem impacto na securitizadora. “Não teve muita mudança para nós porque não fazíamos o tipo de transação que acabou sendo restringido. Eram empresas que acessavam o mercado com captações mais baratas e que não estavam em nosso radar”, comenta Stopa. “Focamos em operações estruturadas de carteiras de crédito.”
Sobre o impacto no mercado como um todo, o sócio da Travessia diz que há estimativas de que possa chegar a 30% menos. “Isto somando as empresas que ficaram proibidas de emitir e as que emitiam para reembolso, agora vedado”, explica Stopa. O executivo se refere a um item da resolução que proíbe uso dos recursos para reembolso de despesas, podendo apenas para investimentos futuros. “Quem usava para reembolso normalmente era por dois motivos, ou porque não tinha acesso a crédito bancário ou porque o CRI era mais interessante. Terão que achar outra saída.” A securitizadora tem 12 transações em estruturação que representam perto de R$ 300 milhões.
Dados consolidado pelo Clube FII, a pedido da Capital Aberto, mostram que até esta segunda-feira (25), as emissões de CRI e CRA chegaram a aproximadamente R$ 2,3 bilhões, 30% menor do que registrado em março de 2023 (inteiro). No acumulado do ano, contudo, foram emitidos R$ 8,9 bilhões de CRIs e CRAs, um avanço importante sobre igual período do ano anterior, com R$ 6,6 bilhões captados. Embora a Resolução tenha entrado em vigor no dia 02 de fevereiro, muitas operações já estavam contratadas.
Leandro Issaka, fundador da Leverage, securitizadora focada no middle market, lembra que os efeitos das mudanças nas regras não afetam o nicho em que atua, no que se refere aos emissores, mas sim em relação ao uso dos recursos captados para reembolso de despesas. “Para as incorporadoras menores, o CRI era importante para reembolso, era uma operação bem simples, agora para conseguirmos temos que usar um lastro misto”, comenta Issaka que tem um entendimento diferente da Resolução e achou uma forma de atender aos clientes.
“Agora fica mais caro e mais complexo, mas é possível. Eu emito um CRI com dois lastros, um título de dívida e outro da carteira já vendida. Assim, consigo usar uma parte dos recursos para reembolso”, comenta Issaka. “O que ficou proibido é a emissão de CRI/CRA com lastro decorrentes de ‘operações financeiras cujos recursos sejam utilizados para reembolso de despesas’, mas não foi proibida, por exemplo, uma operação de emissão da CRI com lastro em Nota Comercial que reembolsa os custos de construção do incorporador.”
O executivo da Leverage, empresa que tem pouco mais de um ano no mercado, afirma que mesmo com restrições há muito espaço para emitir e distribuir os papeis, citando a importância da tecnologia; “No middle é difícil avaliar riscos do próprio papel, tem pouca informação. A saída foi buscar uma big data, colher informações do Serasa, da Receita, tudo que for possível para medir adequadamente aquele risco. Dá para precificar melhor, com um custo mais ajustado, o que incentiva a toda a cadeia.” A securitizadora prepara sua primeira emissão com a QR Tokenizadora e a TG Core/Trinus de um CRI Tokenizado com tecnologia blockchain. “Vamos testar o formato, é mais seguro, mais ágil e tudo em ambiente regulado, no sandbox regulatório, o que é importante para gerir riscos.”
OPEA e Grupo Travessia têm a mesma visão de que a tecnologia vai ser um facilitador para a estruturação das ofertas e distribuição, mas desde que agreguem de fato valor. “A tecnologia pode ser uma forma de reduzir custo, burocracia e isto é muito positivo. Também pode ser um caminho para distribuir”, comenta Flavia Palacios, CEO da OPEA. “Aqui somos agnósticos, tudo que venha e realmente entregue valor para nós é bom. Sobre tokenização estamos olhando seu desenvolvimento, mas acredito que seja algo para médio prazo.”
Na Opea, destaca Flavia, há investimentos relevantes em tecnologia, inclusive viabilizando a conexão da plataforma às diversas tokenizadoras do mercado. “Esta conexão vale para quando o objeto de tokenizacao é um CR e também quando plugamos nossos serviços como oráculos em redes de tokenizacao, para validação de cálculos ou gestão de recebíveis, independentemente da participação de nossa securitizadora na transação.”
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